A ausência de um gesto simples na casa ou local de trabalho de cada um, com a separação do lixo, ainda causa problemas aos catadores que trabalham nas ruas ou nas usinas de triagem diante de falta de conscientização da população. O acondicionamento inadequado dos resíduos sólidos dificulta as atividades das equipes que atuam com a separação e comercialização de produtos recicláveis. O outro desafio é obter o reconhecimento público das cooperativas para a implantação da coleta seletiva solidária.
Os problemas na área e as experiências em diversos municípios do Estado foram debatidos dia 17 de setembro, durante o Seminário Fortalecendo a Reciclagem Popular – Experiências de Coleta Seletiva Solidária, no Centro Regional de Cultura Rio Pardo. De Encruzilhada do Sul participaram o secretário municipal de Obras Urbanismo Saneamento e Viação Urbana, Alvino Silveira Machado e os representantes da Comcreal (Cooperativa Mista de Coleta e Reciclagem), Sirlei Madalena Stasinski Lopes e Luciano da Silva.
Os participantes, após a abertura, dividiram-se em grupos. Enquanto os dirigentes municipais e de entidades permaneceram no auditório para conhecerem a experiências de coleta seletiva solidária em municípios gaúchos que cumprem a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), trabalhadores ligados a cooperativas de diversas cidades trocaram informações e se integraram às oficinas de formação em reciclagem popular para o fortalecimento das ações em outros espaços do Centro Regional de Cultura.
O encontro reuniu representantes de cooperativas de municípios onde o trabalho de coleta já está consolidado, como Santa Cruz do Sul, Rio Pardo, Encruzilhada do Sul e Uruguaiana, bem como de outros onde a organização começa a dar os primeiros passos, como Lajeado e Passo do Sobrado. As atividades também contaram com a participação de integrantes da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), que atua no apoio ao trabalho, e do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
As dificuldades para viabilizar maiores avanços no setor levaram os participantes a aprovar uma carta compromisso para que os municípios gaúchos cumpram a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), com a implantação da coleta seletiva solidária, tornando os catadores protagonistas do trabalho de limpeza urbana. Os organizadores do encontro também apresentaram um abaixo-assinado para obter a adesão dos participantes à petição exigindo ações climáticas. O documento explica que em dezembro deste ano acontece uma reunião em Paris para discutir um acordo para um futuro sustentável, por isso reivindica o estabelecimento de medidas fortes e justas, em nível nacional e internacional, que irão manter o aquecimento global abaixo 2°C de temperatura. Ainda solicita o aumento de financiamento público para que as populações mais pobres possam se adaptar a mudança climática e se desenvolver de uma forma sustentável.
O prefeito de Rio Pardo, Fernando Schwanke, anunciou durante a abertura do seminário que ainda este mês pretende encaminhar um projeto à Câmara para solicitar a autorização da doação da área onde trabalham os catadores à Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Rio Pardo (Cocamarp). Também assinou o termo de compromisso para efetivar a coleta seletiva solidária no município com a contratação da cooperativa para o trabalho.
Três municípios mostram exemplos com a coleta seletiva
O seminário teve entre os destaques a apresentação de três experiências implementadas em municípios gaúchos que cumprem a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O trabalho exitoso de Santa Cruz do Sul, nacionalmente premiado pelo Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis (CIISC) durante a Expocatador 2014, foi exposto por representantes da Cooperativa de Catadores e Recicladores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) e da Secretária do Meio Ambiente. O município foi um dos primeiros a adotar a coleta seletiva solidária com o apoio da Prefeitura, em dezembro de 2012.
Os catadores inicialmente realizaram o trabalho de separação ao ar livre e hoje possuem um galpão coberto para a atividade. Um contrato em vigor entre a Prefeitura e a Coomcat contempla os bairros mais centrais com a coleta seletiva, com o atendimento de 25% da população e previsão de expansão para outras áreas. Além disso, há coleta em grandes geradores de material. A quantidade de material reciclado no ano passado atingiu 857 mil toneladas. No entanto, a produção ainda não viabiliza a manutenção dos catadores apenas com a coleta. Uma das formas de aumentar a colaboração são as campanhas de conscientização de porta em porta. A cidade também centraliza a rede de comercialização das cooperativas de catadores da região, com o recebimento do material de Encruzilhada do Sul, Rio Pardo e Vera Cruz.
Nos município de Encruzilhada do Sul, o trabalho de coleta dos resíduos é mantido pela Cooperativa Mista de Coleta e Reciclagem de Encruzilhada do Sul (Comcreal) desde 2001, contabilizando atualmente a reciclagem de 40 a 45 toneladas de material por mês. O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos no município já foi aprovado pela Câmara de Vereadores e a grande reivindicação dos 22 catadores é viabilizar a implantação com a assinatura do convênio com a Prefeitura. O plano foi formado com a ampla participação da comunidade em audiências públicas.
Na região da Fronteira, 80 famílias de catadores que viviam da venda de material reciclado recolhido no lixão de Uruguaiana, existente a céu aberto, tiveram integrantes capacitados para realizaram a coleta seletiva solidária. A presidente da Associação de Catadores Amigos da Natureza (Aclan), Maria Tugira Cardoso, relatou que a criação da cooperativa ocorreu em cima do depósito de lixo que existia há 20 anos. Hoje, por intermédio da Aclan, eles trabalham na função graças a um contrato firmado com a Prefeitura em julho de 2014, contam com uma central de reciclagem no município e acompanharão a desativação do lixão ainda neste ano. Maria Cardoso destacou o apoio dos catadores de outros municípios e da Federação Luterana de Diaconia (FLD) para a conquista dos avanços no município, mudando a vida de 44 trabalhadores. O plano piloto de coleta seletiva solidária atinge nove bairros da cidade. (Otto Tesche, Gazeta do Sul, 18/11/15)